sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Não quero machucar você

Mais uma vez, ela estava ali, triste, desolada, chorando, com a cabeça baixa pelos cantos. Tinha perdido o brilho do olhar, a alegria de viver, o prazer de estar viva. Só tinha um pensamento, ele. Sim, aquela menina-moça, com seus vinte e poucos anos, encantada e amando um rapazote, um garoto, um adolescente que só queria curtir a vida. A história deles começa engraçada, mas do nada, adquire um ar obscuro. "Maldita hora em que fui te acolher", ela pensa. Agora, os pensamentos dela eram esses: ficar revivendo um passado, ver que mais uma vez tinha cometido um erro, o mesmo erro das outras vezes. Mas como sempre acredita no amor, pensou que poderia ser diferente, mas não foi. Eles eram tão diferentes, com pontos de vista distintos. Ela não aprovava as atitudes dele, o achava meio doido. Ele, bem ele já não sei. E nem ela. Só sabia que ele não tinha vivido os momentos com ela intensamente, por um simples fato, não queria magoá-la, e por isso, não se entregou totalmente. Uma pena, já que ela tinha. Pra ela, estava naquele rapaz um novo amor, que mudaria sua vida. No entanto, se enganou. Uma simples menina, virando adulta, ainda sofria, e muito com seu coração, que nesta altura, já não era de ninguém mais. Num ato planejado, ela, visando salvar alguma coisa ainda, se entregou ao mocinho. Em vão! E ele, disso tudo, disse que gostou do que eles tinham passado. Ela, já em lágrimas e soluçando, se perguntava: mas só gostou? Ah é, ele não viveu intensamente. Agora, a vida dela é ficar imaginando, tentando criar situações em que eles se encontrem e tenham uma bela noite. Que se entendam, e fiquem juntos até o final. Mas isso para ela está cada vez pior, e a realidade a chama com uma frequência maior. Ele não liga, não responde mensagens, não manda recados. Não puxa assunto com ela pela internet, e ela, do fundo, se remói toda, na expectativa de uma atitude dele, mas em vão. Para ela, só resta ficar bolando o papo na cabeça, e como sempre, tomar a atitude para ver se ainda, salva alguma coisa que ela pensa que ainda tem. Ou, pode ser que essa coisa exista, e ele, por medo de saber que existe, fica se privando. O por que disto? ele não quer se entregar, para não machucá-la.

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Luar

Noite de luar. Estrelas iluminando a noite. Lua cheia. Eu, na cama, deitada, olhando pela fresta da janela quase encoberta pela cortina cor ocre, observando o pouco que me é permitido. Mas, ao invés de admirar, sinto depressão, tristeza, aperto. A inspiração me vem a cabeça e sua imagem e lembrança vai e volta. Mas volta do que vai. Fica martelando, é insistente. Sinto sua presença forte, como se você estivesse aqui, agora. Ao fechar os olhos sinto seu cheito, sua pele, seus abraços, o sabor do seu beijo. Aparentemente, isso me faz bem. Mas sei que na real, o mal que me faz é maior que tudo. Essa esperança de te ter me corrói e vai me matando aos poucos, me sufoca e enlouquece meus pensamentos. Já não consigo controlá-los e perco-me no mundo imaginário que me assombra. É como se não mandasse mais em mim. Perdi os sentidos.
E quanto mais eu falo que não o quero mais, mais me ligo em você, mais tenho vontade de me perder em você, pra você. Por enquanto, fico aqui mesmo, com meus pensamentos malucos, irreais e desejos incontroláveis. E tendo ciúmes de tudo e de você.

domingo, 22 de agosto de 2010

PENSAR É TRANSGREDIR

Mais um texto que se encaixa perfeitamente ao meu momento! Autora: Lya Luft. Na verdade, nao sei bem ao certo como que comeicei a me interessar mais por ela, seus textos (até agora não li nenhum livro), só sei q comecei a seguir no twitter porque vi alguem dando RT em umas de suas frases e ai gostei! Hoje em dia, abro diariamente o twitter (@lya_luft). É inacreditável como me identifiquei com os textos, poemas, com a maneira de escrever! Bem, é isso! Desculpem se não escrevo mais, mas ando sem tempo. Espero em breve postar mais um texto meu mesmo. Por enquanto, fiquem com este, que é maravilhoso!



PENSAR É TRANSGREDIR

Não lembro em que momento percebi que viver deveria ser uma permanente reinvenção de nós mesmos — para não morrermos soterrados na poeira da banalidade embora pareça que ainda estamos vivos.

Mas compreendi, num lampejo: então é isso, então é assim. Apesar dos medos, convém não ser demais fútil nem demais acomodada. Algumas vezes é preciso pegar o touro pelos chifres, mergulhar para depois ver o que acontece: porque a vida não tem de ser sorvida como uma taça que se esvazia, mas como o jarro que se renova a cada gole bebido.

Para reinventar-se é preciso pensar: isso aprendi muito cedo.

Apalpar, no nevoeiro de quem somos, algo que pareça uma essência: isso, mais ou menos, sou eu. Isso é o que eu queria ser, acredito ser, quero me tornar ou já fui. Muita inquietação por baixo das águas do cotidiano. Mais cômodo seria ficar com o travesseiro sobre a cabeça e adotar o lema reconfortante: "Parar pra pensar, nem pensar!"

O problema é que quando menos se espera ele chega, o sorrateiro pensamento que nos faz parar. Pode ser no meio do shopping, no trânsito, na frente da tevê ou do computador. Simplesmente escovando os dentes. Ou na hora da droga, do sexo sem afeto, do desafeto, do rancor, da lamúria, da hesitação e da resignação.

Sem ter programado, a gente pára pra pensar.

Pode ser um susto: como espiar de um berçário confortável para um corredor com mil possibilidades. Cada porta, uma escolha. Muitas vão se abrir para um nada ou para algum absurdo. Outras, para um jardim de promessas. Alguma, para a noite além da cerca. Hora de tirar os disfarces, aposentar as máscaras e reavaliar: reavaliar-se.

Pensar pede audácia, pois refletir é transgredir a ordem do superficial que nos pressiona tanto.

Somos demasiado frívolos: buscamos o atordoamento das mil distrações, corremos de um lado a outro achando que somos grandes cumpridores de tarefas. Quando o primeiro dever seria de vez em quando parar e analisar: quem a gente é, o que fazemos com a nossa vida, o tempo, os amores. E com as obrigações também, é claro, pois não temos sempre cinco anos de idade, quando a prioridade absoluta é dormir abraçado no urso de pelúcia e prosseguir, no sono, o sonho que afinal nessa idade ainda é a vida.

Mas pensar não é apenas a ameaça de enfrentar a alma no espelho: é sair para as varandas de si mesmo e olhar em torno, e quem sabe finalmente respirar.

Compreender: somos inquilinos de algo bem maior do que o nosso pequeno segredo individual. É o poderoso ciclo da existência. Nele todos os desastres e toda a beleza têm significado como fases de um processo.

Se nos escondermos num canto escuro abafando nossos questionamentos, não escutaremos o rumor do vento nas árvores do mundo. Nem compreenderemos que o prato das inevitáveis perdas pode pesar menos do que o dos possíveis ganhos.

Os ganhos ou os danos dependem da perspectiva e possibilidades de quem vai tecendo a sua história. O mundo em si não tem sentido sem o nosso olhar que lhe atribui identidade, sem o nosso pensamento que lhe confere alguma ordem.

Viver, como talvez morrer, é recriar-se: a vida não está aí apenas para ser suportada nem vivida, mas elaborada. Eventualmente reprogramada. Conscientemente executada. Muitas vezes, ousada.

Parece fácil: "escrever a respeito das coisas é fácil", já me disseram. Eu sei. Mas não é preciso realizar nada de espetacular, nem desejar nada excepcional. Não é preciso nem mesmo ser brilhante, importante, admirado.

Para viver de verdade, pensando e repensando a existência, para que ela valha a pena, é preciso ser amado; e amar; e amar-se. Ter esperança; qualquer esperança.

Questionar o que nos é imposto, sem rebeldias insensatas mas sem demasiada sensatez. Saborear o bom, mas aqui e ali enfrentar o ruim. Suportar sem se submeter, aceitar sem se humilhar, entregar-se sem renunciar a si mesmo e à possível dignidade.

Sonhar, porque se desistimos disso apaga-se a última claridade e nada mais valerá a pena. Escapar, na liberdade do pensamento, desse espírito de manada que trabalha obstinadamente para nos enquadrar, seja lá no que for.

E que o mínimo que a gente faça seja, a cada momento, o melhor que afinal se conseguiu fazer.



Lya Luft